Toda resistência é fútil: você será substituído

Toda resistência é fútil: você será substituído

Autor: Alessandro Martins
20ABR 2011
 Um dia desses li no Twitter. Alguém escreveu: em 100 anos todos os seres humanos serão substituídos.
Imediatamente fiquei imaginando a que tipo de teoria da conspiração dos infernos aquele infeliz era filiado.
E, de repente, olhando para o lado e vendo as pessoas em meu entorno, pensando em outras que ali não estavam, me dei conta: o cara estava certo.
Daqui a cem anos, nenhum daqueles estará vivo.
Com um pouco de sorte, um ou outro. Mas quase a totalidade dos quase 7 bilhões (7.000.000.000) de seres humanos terão sido substituídos por outros. Mesmo os que nascem neste segundo em que você lê este ponto final —-> .
Mas nem é preciso ir tão longe.
Dizem que a cada quatro anos as células de seu corpo foram totalmente renovadas.
O que dizer dos átomos e das partículas ainda menores que compõem esses átomos?
E dos espasmos energéticos que constituem meus pensamentos?
Tenho a impressão de que, agora mesmo, o sujeito que sentava nesta cadeira e digitava estas palavras que neste momento você lê – agora mesmo, mesmo -, ele foi substituído.
Eu sou o seu substituto.
Prazer em conhecer você.

E tudo é tão claro, então faça o que tem que ser feito agora.Nada é tão importante, seja leve, cultivar bons relacionamentos afetivos é fundamental. O homem é um ser social por definição.  Não se mede a qualidade de sua vida pela quantidade de amigos, mas pela qualidade desses aspectos e a forma descomplicada e clara com que você administra seus relacionamentos.  Ninguém nasceu para viver em uma ilha sozinho, temos que aprender com as pessoas que nos cercam, e não nos apegarmos delas.  A vida é uma troca de energia constante, se você está triste, as pessoas ao seu redor também ficarão, por isso, vamos sorrir, a felicidade proporciona liberdade!

A vida como extensão da empresa

A vida como extensão da empresa
Thomaz Wood Jr.

O humor é um conceito geralmente aplicado aos indivíduos. Dizemos, de nossos pares, que são bem-humorados,
que têm senso de humor ou que estão de mau humor. O conceito de humor também pode ser aplicado, correndo-se
certo risco de fazer generalizações indevidas, a países. Se aceitarmos tal risco, então podemos afirmar que nosso
instável país já experimentou vários humores. Pindorama já teve a alcunha de tristes trópicos, local de exílio e
desterro, já foi a varonil nação do futuro, a terra ufanista do “ame-o ou deixe-o” e o eufórico e barulhento país do
carnaval.
Nos anos 1980, nosso humor mal resistiu às más notícias do front econômico. Flertamos com a depressão (depois
da recessão), tornamo-nos violentos e quase enterramos nossa combalida cordialidade. Na década seguinte, nosso
humor sofreu com as turbulências das mudanças econômicas, perdemos nossas ilusões políticas e ficamos mais
céticos. Agora, por obra da providência divina e do mercado de commodities, vivemos um interlúdio
bem-aventurado, catalisado por boas- novas, milagrosamente enfileiradas e cuidadosamente exploradas. Aqui e
acolá, tentam nos convencer de que nunca fomos tão felizes.
Este modesto ensaio propõe uma singela contribuição ao entendimento das variações do humor nacional. Especula
este escriba que a nação pindoramense abraçou, desde meados da última década, um novo humor, um humor
catalisado pela adoção da cartilha neoliberal na economia e pela ascensão do gerencialismo no mundo das
empresas e do trabalho.
Como noutras plagas, o novo humor incentivou o individualismo, transformou reclusos executivos em celebridades e
incentivou profissionais a se verem como marcas de sabão, a serem incessantemente promovidas e vendidas, pela
melhor oferta, no mercado de trabalho. E não ficou por aí. O novo humor ultrapassou as fronteiras corporativas,
ganhou as ruas, a vida social, o governo e as artes. Nada lhe escapou. Talvez ele não seja, ainda, o humor oficial,
absoluto, como ao norte do Rio Grande, mas já é um humor de referência, cujos desígnios não são sequer
discutidos, porque foram assimilados e tornados “naturais”. Veremos, a seguir, uma singela evidência de sua
existência. Em seguida, exploraremos suas origens e suas manifestações.
Um antropólogo que decida passar alguns quartos de hora em um escritório executivo poderá observar in loco
alguns traços curiosos do mundo corporativo. Quiçá possa até mesmo estabelecer hipóteses sobre o imaginário e o
comportamento de seus habitantes. Pelas estantes e mesas, o visitante encontrará pitorescos livros de gestão e
vistosas revistas de negócios. Provavelmente, se assombrará com o exotismo e a criatividade dos títulos e das
manchetes. A literatura de negócios e de gestão mistura a estrutura das fábulas infantis, a liberdade criativa da
ficção científica e o apelo pseudopsicológico da auto-ajuda. Os autores do ramo parecem ter especial apreço por
hipérboles e metáforas. Não temem o ridículo. Alguns parecem agir sob inspiração messiânica, seguros de que
serão compreendidos, e imitados, por seus rebanhos.
Qualquer gerente, ou candidato a gerente, sabe que a ascensão profissional está condicionada ao domínio de um
intrincado vocabulário, um palavrório cheio de anglicismos, neologismos e siglas. Aos desavisados, as idéias
parecem densas e significativas, porém os conceitos são irritantemente imprecisos, vagos. Parece ser este o
segredo do encontro entre a destrambelhada oferta com a não menos destrambelhada demanda.
Alguns gestores contemporâneos apresentam comportamento maníaco-depressivo: seu humor oscila entre
momentos marcados por temores e preocupações com a própria sobrevivência e momentos de euforia, marcados
por sonhos de grandeza e pela elaboração de estratégias de ascensão. Muitos leitores adotam a literatura de
negócios e gestão com fervor religioso. Tratam-na como guia espiritual para enfrentar chagas e oportunidades da
vida corporativa.
Nem sempre foi assim. O espetáculo da vida corporativa já foi mais sóbrio, sem a apelação e a pirotecnia atuais.
Há duas décadas, quem visitasse o escritório de um executivo, se depararia com um ambiente diferente do atual,
com decoração mais comportada. No centro, uma mesa de madeira escura, as gavetas trancadas à chave. Ao
lado, um arquivo metálico de pastas suspensas, de cor verde oliva, igualmente fechado. Junto à parede, uma
estante impecavelmente arrumada, a exibir manuais técnicos e, vez por outra, biografias de Winston Churchill e do
General Patton. No meio do papelório, a conferir pompa e circunstância ao ambiente, pastas, desenhos e cadernos
de folhas quadriculadas, repleto de números e contas. Há duas décadas, o ocupante da alcova burocrática era um
austero empresário, preocupado com problemas da linha de produção, com os controles de preço impostos pelo
governo e com a inflação. Seu dia era ocupado com a leitura e análise de relatórios, a realização de cálculos.
A mudança ocorrida nas duas últimas décadas nos escritórios corporativos reflete mais do que tendências
decorativas. O que ocorreu foi uma mudança de forma e conteúdo do trabalho gerencial. Faz parte do que os
especialistas chamam hoje de gerencialismo, uma história ainda mais ampla e antiga, de mais de cem anos, cujos
efeitos são sentidos no nosso dia-a-dia, porém nem sempre notados ou compreendidos.
O gerencialismo é usualmente entendido como um conjunto de teorias, métodos e práticas, as quais evoluem ao
longo do tempo e destinam-se a garantir o melhor desempenho possível para as empresas. O gerencialismo é
também visto como uma ideologia, prima-irmã do neoliberalismo, que tem na base a crença de que a aplicação de
melhores ferramentas de gestão pode resolver problemas empresariais, sociais e econômicos. Seu surgimento
ocorreu no início do século XX, com a criação das escolas de gestão. Nas primeiras escolas norte-americanas, o
corpo de professores era formado por gente trazida diretamente das fábricas, para partilhar sua experiência prática
com os pupilos. Embora parecesse um caminho natural, o expediente passou, com o tempo, a ser criticado. Até
porque uma solução boa para uma empresa pode causar um desastre em outra.
A primeira tentativa de escapar dos limites do conhecimento estritamente prático e trazer ciência para a gestão se
deu pela adoção dos princípios de “gerenciamento científico”, de Frederick Winslow Taylor (1856-1915), o mestre
dos cronômetros e dos estudos de tempos e movimentos. Taylor foi um engenheiro obcecado por eficiência
industrial, que legou ao mundo os famosos estudos de tempos e movimentos.
Também é de sua lavra o princípio da separação entre o trabalho de planejamento, realizado pelos gerentes, e o
trabalho de execução, realizado pelos trabalhadores. Consta que ele próprio fracassou, em várias oportunidades,
como consultor industrial. Entretanto, seus princípios e métodos perduraram, marcando gerações de
administradores e fundamentando métodos de gestão nos mais variados setores de atividades. Semelhanças entre
a cozinha das lanchonetes fast-food, os escritórios de empresas estatais, as linhas de montagem de automóveis e
os call centers são bem mais do que coincidências.
Nas décadas posteriores, ocorreram novas tentativas para envernizar a tosca estrutura conceitual do gerencialismo
e lhe conferir ar de ciência respeitável. O esforço surtiu efeito: a administração se tornou uma profissão
reconhecida e popular, e o seu campo científico ganhou reputação e respeito entre outras comunidades. As escolas
norte-americanas de gestão tornaram-se elas próprias grandes negócios e se espalharam pelo mundo.
Comunidades de pesquisadores, inspiradas pelo modelo ianque, espalharam-se pelo planeta e geraram clones.
No entanto, não faltam crises e críticos, a denunciar a inutilidade das pesquisas científicas realizadas nas
universidades e a incapacidade das escolas de preparar gestores capazes de atuar no mundo real. Outra praga
que afeta o campo é o gosto dos executivos por modas gerenciais, incessantemente promovidas por consultores,
jornalistas especializados e professores. Por sua vez, historiadores do gerencialismo criticam sua falsa neutralidade
e o seu conservadorismo. Segundo tais críticos, além de constituir per se uma ideologia do capital, o gerencialismo
teria consolidado princípios de hierarquia, planejamento e racionalidade próprios das organizações militares. Isso
teria ocorrido após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o retorno dos militares norte-americanos e sua
incorporação à vida civil, havendo depois se propagado e consolidado ao longo de toda a Guerra Fria.
A partir dos anos 1980, o gerencialismo sofreu forte impulso, decorrente da adoção das chamadas políticas
neoliberais. O movimento, como se sabe, teve início no Reino Unido e nos Estados Unidos. Pontificando sob um
país decadente, a primeira-ministra Margaret Thatcher apostou seu mandato na recuperação de valores vitorianos
de trabalho duro, motivação, ambição criativa e independência, adaptando-os ao momento. Do outro lado do
Atlântico, Ronald Reagan cruzou o desfiladeiro que partia da depressiva Era Carter, buscando a salvação no
individualismo e no empreendedorismo.
O novo humor alimentou e foi alimentado pela adoção de políticas neoliberais. Cada um em seu nível de atuação,
eles se casaram, se complementaram e iniciaram uma feliz vida a dois. O gerencialismo estava para as empresas e
para os indivíduos assim como o neoliberalismo estava para as instituições e para os países. Reformado pelo
humor emergente, o gerencialismo passou a ser visto como a melhor resposta aos desafios da globalização, senão
a única resposta para evitar o declínio econômico de empresas, de regiões e de países. Seus valores, modelos e
técnicas migraram rapidamente do Reino Unido e dos Estados Unidos para outros países desenvolvidos e, então,
para a Europa do Leste, Ásia e América Latina.
Empresas e governos abraçaram rapidamente o novo credo. Cinco princípios compuseram um ideário que
rapidamente se consolidou: primeiro, a crença inabalável na liberdade de mercado (o retorno da “mão invisível”).
Segundo, a visão dos indivíduos como empreendedores de si mesmos (you Inc., copiado no Brasil como Você S.A.,
que se tornou título de revista de auto-ajuda). Terceiro, o culto da excelência como meio para o desenvolvimento
individual e coletivo. Quarto, a crença de que as tecnologias gerenciais são válidas em todas as latitudes, longitudes
e altitudes. E quinto, que estas mesmas tecnologias gerenciais, por suas qualidades (e também por seus poderes
mágicos) são capazes de garantir os melhores resultados para as empresas.
Com o tempo, o novo humor ganhou status de credo, e este organizou uma igreja em torno de si. A sustentá-la, três
vistosos pilares: as empresas de consultoria, as escolas de negócios e a mídia de negócios. Cada um destes
pilares contribuiu, à sua maneira, para o aperfeiçoamento do novo credo. Abençoados na união, os componentes
desta sagrada trindade cresceram e se multiplicaram.
Pindorama absorveu o novo credo com algum atraso, porém abraçou-o com vigor de noviço. Como em outros
países, aqui também o grande impulso veio das reformas econômicas neoliberais. Desde o início do século XX, a
condução da economia local foi marcada pela falta de apreço à ortodoxia. No entanto, no fim dos anos 1980 e início
dos 1990, o Brasil passou a liberalizar a economia e a seguir as cartilhas recomendadas pelos organismos
internacionais. As mudanças decorrentes – os programas de privatização, o movimento de fusões e aquisições, o
aumento da competição entre empresas e a terceirização – geraram, como em outros países, forte demanda de
serviços de consultoria e educação, e contribuíram para criar um terreno fertilíssimo para o avanço do novo credo.
Consultores, educadores e editores responderam prontamente à nova demanda. As maiores empresas mundiais de
consultoria aqui se instalaram ou, se já instaladas, aumentaram seus quadros e ampliaram suas atividades. Durante
toda a década de 1990, a indústria do conselho instigou corações e mentes a abraçar as novas ondas gerenciais
que iam surgindo no horizonte. As escolas de negócios também cresceram vertiginosamente. Um de seus mais
vistosos produtos, o MBA, foi associado a propriedades mágicas, como um passaporte capaz de levar seu titular
para posições de destaque no topo da pirâmide corporativa. A mídia de negócios não ficou atrás. Ela cresceu e
prosperou, traduzindo, adaptando e criando incansavelmente novos títulos.
A mídia de negócios é, aliás, o melhor ponto de observação do novo humor e do novo credo. O leitor que se
dispuser a um breve mergulho nas revistas e nos livros de gestão notará facilmente a homogeneidade de conteúdo
e estilo. Como uma companhia teatral de peça única e carreira ininterrupta, a mídia especializada replica edição
após edição, livro após livro, seus conteúdos. Aqui e ali, pequenas adaptações e mudanças, apenas para garantir o
sabor de novidade a um modelo que é considerado um grande sucesso.
No teatro corporativo retratado na mídia, o palco é sempre o mundo globalizado, habitado por empresas
transnacionais e profissionais cosmopolitas. Os personagens são freqüentemente gerentes heróis que, por seus
feitos extraordinários, transformam-se em celebridades. Suas realizações são validadas por experts acima de
qualquer suspeita, gurus da consultoria ou professores de grandes escolas de negócios. As sagas são narradas à
moda das fábulas infantis, temperadas com grandes desafios e impressionantes vitórias. Não há espaço para
ambigüidades e meios-tons: certo e errado, bom e ruim, superior e inferior. Paradoxos e contradições não existem
e o pragmatismo resolve todos os dilemas: “Vivemos em um mercado livre e vitorioso, de destino irreversível, no
qual as empresas buscam constante renovação para se manterem competitivas, e seus funcionários devem pensar
e agir como empreendedores autônomos e responsáveis”.
Como em toda igreja, também no templo do gerencialismo uma prática de cultos se estabeleceu. Em lugar de
padres e sacerdotes, subiram ao púlpito gurus e curandeiros. Em lugar de elegias e preces, passaram a ser
compilados e disseminados pungentes testemunhos de sucesso empresarial. Em lugar de histórias de redenção
individuais, foram identificadas histórias de redenção empresarial. Pouco pão e muito circo. Para manter o público
em contínuo êxtase, foram adicionados gurus locais aos já renomados, porém algumas vezes envelhecidos, gurus
estrangeiros. Para adornar os templos, foram providenciados ícones, ídolos recém-canonizados, por façanhas reais
ou fabricadas, à frente de grandes corporações.
Embora o novo credo seja único, monolítico, seus cultos são sempre renovados. Os sacerdotes do gerencialismo
estão sempre próximos de seus fiéis. Eles, na verdade, confundem-se com seu rebanho. Consultores aperfeiçoam
permanentemente seus modelos e ferramentas durante os projetos realizados nas empresas. Jornalistas mantêm
amplas redes de contatos, das quais extraem as “últimas novidades”, editando-as e dourando-as para seu público.
Professores, em cursos executivos, ensinam tanto quanto aprendem com seus estudantes.
Sólida, a nova igreja avançou firme e forte na troca de milênios. Ela passou quase incólume pelo estouro da bolha
da internet e, em Pindorama, superou com tranqüilidade o avanço da estrela vermelha. Acreditou na onisciência, na
inevitabilidade das eternas forças do mercado. Não se abalou. Apostou na neutralidade, reformou aqui e acolá seu
discurso e seguiu imperturbável seu curso. Alguns gurus perderam sua aura, mas foram prontamente substituídos.
Algumas modas feneceram, sob o peso de seu fracasso, mas outras rapidamente surgiram.
O novo humor e o novo credo ultrapassaram as fronteiras da economia e dos negócios. Avançaram pelos órgãos
de governo, pela educação, pela saúde e pelas artes. Sua presença é discreta, porém visível. Empreendedorismo,
sucesso e carreira são hoje temas recorrentes nos jornais, nas revistas semanais e até nas publicações femininas.
As revistas de celebridades e as revistas de negócios tornaram-se primas próximas, a partilhar valores e estilos, e,
eventualmente, editores e jornalistas.
Jovens vestibulandos hoje tomam decisões de escolha de carreira com base na avaliação futura do mercado e em
conceitos de retorno sobre o investimento. Profissionais recém-formados sentem-se cada vez mais atraídos por
ganhos rápidos no mercado financeiro. Em todas as faixas etárias, cresce o fascínio por criar negócios, tornar-se
executivo ou empresário. A paixão pela carreira (rápida) substituiu a paixão pelo trabalho (sério). A conversa de
negócios segue invadindo a vida social, as rodas de amigos, as relações.
Talvez tenhamos de aceitar a chateação como efeito colateral associado ao progresso econômico. Ou, quem sabe,
tenhamos apenas de esperar pacientemente até que seu ciclo se complete e um novo humor lhe tome o lugar. E
desejar que seja menos aborrecido do que o atual.

*Thomaz Wood Jr, Professor da FGV-Eaesp, é um dos mais respeitados estudiosos das novas tendências de
gestão do País. Autor dos livros Gurus, Curandeiros e Modismos Gerenciais (Atlas) e Organizações
Espetaculares (Editora FGV), é colunista de CartaCapital desde 1996.

Os Arquétipos do homem e da mulher…[AlexMarq]

Os Arquétipos do homem e da mulher…
[ Alex Marq ]

Arquétipo – Modelo de seres criados. Padrão, exemplar, modelo protótipo. Psic: segundo CG Jung, imagens psíquicas do inconsciente coletivo.

O Guerreiro.
O principal e mais comum personagem assumido pelos homens… O homem nasce Garoto, com toda a pureza do ser… Mas a vida, a cultura, as exigências e convenções da sociedade, forçam o homem a tornar-se Guerreiro… Armado com suas habilidades, conhecimentos, cursos, diplomas, experiências e reconhecimentos… Ele se vê forçado, desde muito cedo, a vestir sua armadura e partir por sobre todos os que atreverem-se a atrapalhar o seu caminho…. É frio, racional, meticuloso, calculista, chegando a ser cruel em muitas vezes, pois as batalhas da vida não nos dão espaço para clemências… Aprende a bater e agredir de tanto apanhar… Investe no jogo aonde seu “verdadeiro” valor é mensurado apenas no que pode ser ostentado… Absorve sua carga de ódio transformadas em atitudes que o levem a conquistar o que deseja…
O Guerreiro é feito para a guerra e vive tão somente para a beligerância… Sua ordem é sempre atacar, devorar, saquear… ganhar a qualquer custo, independente de quem possa ser prejudicado com isso…
As regras do jogo da vida impõem a todos essa personificação da sagacidade e esperteza… Não aprendemos a nos unir, nem nos ajudar… Desde cedo somos obrigados a competir sempre, e só as vitórias são reconhecidas… Vencer, vencer, vencer e vencer… Mesmo que essa vitória lhe traga mais tristezas do que alegrias… Vencer a qualquer custo, pisando e destruindo tudo e todos que forem precisos… O objetivo final justifica todos os meios… Por mais execráveis que sejam…

A Donzela (Menina)
A Donzela é a Menina em seu sentido mais puro… Dócil, ingênua, frágil, alegre, vivaz, com habilidades artísticas e grande emotividade… Ao contrário do Garoto puro que é sufocado pelas exigências da vida para tornar-lo Guerreiro… A Donzela é incentivada pelo meio e pelos preconceitos do mundo a estar sempre viva e em destaque na personalidade das mulheres… Criando o cruel paradoxo feminino entre A Donzela x A Prostituta…
Tanto a Donzela quanto o Garoto, são a personificação do homem e da mulher puros, ainda sem ter assimilado os conceitos e preconceitos do seu meio… É o puro impulso das emoções e sensações do ser que independe de experiência anterior… É o ser nu e sincero, sem nada a esconder ou se envergonhar… A criança dentro de cada um que ainda vive apesar de ter sido sufocada pelas responsabilidades da vida…

O Amante (Garoto)
O Garoto é o homem puro de sentimentos… A vida masculina fecundada, desenvolvida e acolhida pela Mãe biológica até seu nascimento quando fora partido seu cordão umbilical, tirando-o para sempre da ligação com sua origem… O bebê que cresceu e com o passar do tempo, foi obrigado pela vida a vestir sua armadura e tornar-se Guerreiro, para lutar e viver em meio a tanta crueldade que há no mundo… Ele é criativo, comunicativo, impulsivo, honesto, atencioso, acolhedor, e sorridente… Qualquer mulher se apaixona pelo sorriso de um Garoto de menos de 3 anos, porque nessa idade ele ainda não foi obrigado a se armar… Ainda…
Depois que esse Guerreiro tomou à frente da personalidade deste homem, sua armadura junto com suas armas, esconderam das pessoas comuns o sorriso apaixonante do Garoto puro que agora revela-se crescido… E apresenta-se como o Amante, apenas para “A Donzela” por ele escolhido… O momento em que o Guerreiro depara-se com o brilho da alma feminina, que faz com que ele dispa-se de suas armas e proteções e revele a sua “real” identidade… o homem puro, desarmado, relaxado… O Amante é o menino crescido que é “ressuscitado” pela alma feminina… Ele é tão bobo quanto um filhote de canino… Enquanto o encanto feminino possui uma perspicácia mais semelhante aos felinos… Nesse aspecto, já entramos em outro arquétipo…

A Prostituta
A Prostituta é o “Guerreiro” feminino… A excluída, marginalizada, despudorada execrada… O “ofício” da prostituição é reconhecidamente o mais antigo que se tem notícia na história de nosso mundo… Porém, vamos buscar ver esse adjetivo do modo mais comum como é empregado… A Prostituta é aquela aberta, desapegada, insubordinada, sedutora, imprevisível, lasciva, inebriante… Que faz o homem ter prazer e desejo… E as “outras” mulheres terem medo… Ela é a corruptora dos homens, a destruidora de lares, a amante passional, a hipnotizadora do raciocínio masculino… Ela possui os sentidos femininos aflorados sem nenhuma censura… O calor, o cheiro, o desejo, a satisfação carnal…
O arquétipo da Prostituta, surge na vida da mulher, normalmente despertado por algum “Amante” que faz aflorar e revelar os sentidos da libido feminina… Mas, por vezes, ela se revela de modo espontâneo… Pela própria percepção da Menina (Donzela) que cresce e busca descobrir a si mesma e conhecer o mundo…
Na verdade o conceito de Prostituta é muito mais amplo do que a questão sexual… Em inúmeras épocas e localidades, qualquer mulher que não fosse ‘legalmente’ unida a um homem, ou tivesse atividade profissional para sua sobrevivência (mesmo sendo uma atividade não sexual), era taxada de “Prostituta”… Sem entrar no âmbito de julgar esses atos… Vemos na Prostituta, a sedução feminina de modo superlativo… e a não submissão aos homens… Um ato heróico, se pensarmos nas mulheres de milhares de anos atrás, quando todas eram submissas a seus homens…
A Prostituta cala o Guerreiro… Entorpece-o até que ele largue suas armas, dispa sua armadura e revele-se “O Amante…” A arma da mulher é a sedução… Esqueçam os conselhos da vovó meninas… Um homem não se prende pelo estômago… O buraco é mais embaixo… E é exatamente onde vocês estão pensando… Isso explica porque 97% dos homens que procuram os “serviços” de uma Prostituta de verdade são casados…
Os homens Guerreiros brigam e protegem suas Donzelas… Mas quem os Amantes realmente desejam é “A Prostituta” que esconde-se dentro dela.. É A Prostituta que mexe com a cabeça do Guerreiro entorpecendo-o até se revelar o menino que realmente é…

Exauridas boa parte das energias da paixão… Depois que todas as máscaras já caíram.. Quando o Guerreiro já mostra-se o Garoto frágil que realmente é… E a Donzela já perdeu-se em seus próprios desejos revelando sua paixão sem o mínimo pudor… Apenas começa um caminho extenso para ambos…
Quando ocorre o devido encontro das almas, cada ser troca uma “parte” de si com o outro… E ambos são transformados… O Guerreiro funde-se no Amante, a Donzela funde-se à Prostituta… A partir daí… Ambos arquétipos, masculino e feminino… Serão interdependentes… Um existirá somente se o outro existir… Para que ambos existam, será preciso manter as polaridades em equilíbrio.

Até então… Guerreiro e Prostituta… Donzela e Amante… São arquétipos que existem “avulsos”… Todo homem tem o Guerreiro e o Garoto em si… E quase todos têm o Amante… Toda mulher tem a Menina e a Donzela dentro de si… E quase todas têm A Prostituta… Mesmo O Amante e A Prostituta, necessitam dessa interação para se revelarem… O Amante só se revela para a Prostituta… A Prostituta só se revela para o Amante…

A Mãe
Mãe é a personificação do que gera a vida… Mãe Natureza é como chamamos todo o nosso ecossistema com a tanta diversidade de vida e fenômenos manifestados… Mãe é a origem da vida… Origem do ser… O surgimento do arquétipo da Mãe, é independente da realização física da maternidade em seu primeiro estágio… Ela é despertada no sentimento de acolher o “Seu Garoto” agora fundido com “O Amante” que revelou-se anteriormente a mulher… A busca do equilíbrio emocional de ambos depende de cada um preencher sua necessidade íntima… Inconscientemente, os homens buscam uma mulher semelhante a sua Mãe… Sendo esta o principal exemplo feminino que ele possui, a principal referência…. Não é raro vermos mães dizendo em tom cômico que possuem um filho a mais do que realmente têm, sendo contabilizado seu marido nisso… Em muitos momentos as esposas fazem um papel de Mãe de seus maridos… Se nunca conseguiu observar isso… Talvez seja porque não tenha sido despertado, ainda…

O ponto principal da carência emocional desse “Garoto” sob a armadura do “Guerreiro” que apresentou-se como “O Amante”, e de ter “A Mãe” ao lado… Ele sonha com A Donzela, deseja A Prostituta… Mas, em seu subconsciente… De quem ele realmente precisa… É da Mãe… Aquele cordão umbilical rompido em seu nascimento ainda lhe faz falta… A Mãe é a base, é estrutura, é consciência, lucidez, equilíbrio, refúgio, colo, aconchego… É a sabedoria feminina despertada em meio ao equilíbrio da suas energias com “O Mago” que se revela…

O Mago
“O Mago” assemelha-se ao Pai da Donzela… Pai é orientador, provedor, realizador, pragmático, racional, calculista, direto… Não há melhores ou mais fortes… Homem e mulher são um o complemento do outro… O homem não admite, mas sua carência emocional é imensa… Já a necessidade das mulheres é mais ideológica… Mulher quer ver, entender, contextualizar, estudar, experienciar, pesquisar, saber como é… Nem toda mulher é Mãe mas toda Mãe é mulher…
Quando o arquétipo da Mãe é despertado, surge a necessidade do Mago… O Mago é quem realiza, experimenta, cria; também é um guru, um orientador paciente que oferece o ponto de equilíbrio que a Mãe necessita… A carência feminina está num âmbito mais lógico… Ela quer “ouvir” uma opinião diferente, ver uma visão nova, pesquisar outras alternativas, elaborar extensos relatórios e planilhas antes de agir.

O homem é impulsivo e faz muita besteira, a mulher pensa demais e acaba não fazendo nada… Para que essa relação não vire um jogo de tirania, é preciso entendimento e muito sentimento envolvido… O Mago só pode realizar dentro da serenidade necessária, tendo preenchida a sua carência, e tendo a devida carga de afeto para sentir-se livre para criar… Ele precisa de suas emoções em equilíbrio para poder administrar as complexas questões que terá que resolver…
Nesse estágio, as trocas e interações energéticas são muito fortes… E altamente positivas se o casal desejar ter seus herdeiros… Se não houvesse tantos “descuidos” e as pessoas buscassem procriar em momento adequado, talvez não teríamos tanta gente louca no mundo.

Quando o Mago desperta… Sendo o ponto de equilíbrio da Mãe, ambos podem viver e realizar com maior capacidade… As soluções ocorrem de modo gradativo, e ambos desenvolvem-se, cada um suprindo carências do outro e somando sua parte num “negócio” aonde ambos ganham… E a união traz seus frutos… Quando finalmente após muitas pedras superadas no caminho, muitas alegrias divididas, muitas lágrimas derramadas, e muitos traumas superados… Ambos chegam ao seu ponto máximo.

O Rei e A Rainha.
A Polaridade Perfeita… O Rei Existe porque aquele Guerreiro que despiu-se para revelar-se o Amante, entregou-se a sua Donzela por ter sido seduzido pela Prostituta, mostrando o Garoto que realmente é… A Mãe acolheu esse Garoto para que ele fundisse seu Guerreiro junto com o Amante, tornando-se o Mago que trabalhou, estudou, realizou, adquiriu patrimônio e sabedoria, e fez da “Sua Mãe, Donzela e Prostituta” a “Sua Rainha”.

A Rainha é despertada pelo Rei… Mas “O Rei” só chega a ser Rei se tiver a sua Rainha… O ponto máximo da realização de ambos… Cada um só é o que é porque teve o outro consigo nesse caminho… Ambos continuam unidos por mútua admiração, reforçadas por tantos momentos bons e ruíns que só tiveram a si mesmos com apoio… Hoje, seu império é galgado em todo amor que puderam dedicar a si mesmos.

Esses arquétipos foram baseados tão somente em observações… Para saber mais sobre arquétipos, recomendo pesquisar os trabalhos de Gustav Jung… Para quem acredita em amor e entendimento, são mais alguns argumentos para acreditar… Para quem não acredita… Algo a se pensar.

O curioso é que os arquétipos vão somando-se ao invés de serem substituídos… A Mãe traz a Donzela e a Prostituta consigo… O Mago tem em si o Amante e o Guerreiro… Rei e Rainha englobam todos os seus arquétipos anteriores, coroando sua “realeza.”

Nada do que eu digo pode ser considerado uma verdade absoluta… Por isso que citei alguns arquétipos, símbolos, personagens que assumimos em determinadas situações… Apenas isso… O arquétipo da Prostituta, que achei o mais fascinante de todos, não é DE MANEIRA ALGUMA, qualquer ofensa indireta a qualquer mulher que eu conheça ou não.

Observo que existem muitas Mães (biológicas, Mães literalmente falando), que estão muito longe do arquétipo da “Mãe” que descrevi… Muitas ainda estão na dualidade Donzela-Prostituta, sem se resolver da vida, apesar de ter marido, filhos, vida estruturada e etc… Os homens por sua vez… A grande maioria nasceu Garoto, virou Guerreiro e não tira sua armadura nem na hora de ir para cama… Enfeitiçado pela Prostituta, ele corrompe e machuca a Donzela, ignorando a Mãe… Daí o motivo de tantas mulheres casadas insatisfeitas de vida.

Observei que alguns poucos casais, que podemos considerar harmoniosos, demonstram ter seu Mago e sua Mãe despertados… Porém, é muito difícil vermos isso “do lado de fora”… Cada um que observe sua própria relação como anda… Do mesmo modo, creio já ter visto alguns Reis e Rainhas… Com toda uma história em comum, ainda conseguindo manter o carinho mútuo e um sorriso a cada palavra trocada… O que podemos ter de melhor dessa vida em meio a tantos transtornos que somos obrigados a passar?

Os arquétipos descritos, na verdade, são personagens que assumimos implicitamente… Tudo o que pude observar e contextualizar sobre viver a dois… Temos problemas, a vida passa muito depressa, as rotinas cansam demais, o stress destrói nossa saúde… Nisso tudo, o que acaba nos importando mais, é quem gostamos e quem está conosco… Somente isso…
Amor e alegria em nossos corações… Sempre!

PARE DE CARREGAR A MALA DOS OUTROS!

Você acredita que carrega malas alheias?
Vamos fazer um exercício?

Como você reage quando seu filho não quer ir à faculdade? quando sua filha quer morar sozinha?

Ou quando alguém não consegue arrumar a própria mala para a viagem de férias, perde a hora do trabalho com frequência, gasta mais do que ganha… e muitas coisinhas mais que vão fazendo você correr em desvario para tapar buracos que não criou e evitar problemas que não afetam sua vida diretamente?Não afetam a sua vida, mas afetam a vida de pessoas queridas, então, você sai correndo e pega todas as malas que estão jogadas pelo caminho e as coloca no lombo (lombo aqui cai muito bem, fala a verdade) e a sua mala, que é a única que você tem a obrigação de carregar, fica lá, num canto qualquer da estação.

Repetindo, a sua mala, que é a única que você tem obrigação de carregar, fica lá jogada na estação!

Temos uma jornada e um propósito aqui neste planeta e quando perdemos o foco, passamos a executar os propósitos alheios.

A estrada é longa e o caminho muitas vezes nos esgota, pois o peso da carga que nós nos atribuímos não é proporcional à nossa capacidade, à nossa resistência e o esgotamento aparece de repente.

Esse é o primeiro toque que a vida nos dá, pois, quando o investimento não é proporcional ao retorno, ou seja, quando damos muito mais do que recebemos na vida, nos relacionamentos humanos ou profissionais, é porque certamente estamos carregando pesos desnecessários e inúteis.

Quando olhamos para um novo dia como se ele fosse mais um objetivo a cumprir, chegou a hora de parar para rever o que estamos fazendo com o nosso precioso tempo.

O peso e o cansaço nos tornam insensíveis à beleza da vida e acabamos racionalizando o que deveria ser sacralizado.É o peso da mala que nos deixa assim empedernido.

Quanto ela pesa?

Quanto sofrimento carregamos inutilmente, mágoa, preocupação, controle, ansiedade, excesso de zelo, tudo o que exaure a nossa energia vital.

E o medo, o que ele faz com a gente e quanta coisa ele cria que muitas vezes só existe dentro da nossa cabeça?

Sabe que às vezes temos tanto medo de olhar para a própria vida que preferimos tomar conta da vida dos filhos, do marido, do pai, da mãe…

E a nossa mala fica na estação…O momento é esse, vamos identificar essa bagagem: ela é sua?

Ótimo, então é hora de começar uma grande limpeza para jogar fora o lixo que não interessa e caminhar mais leve.Agora, se o excesso de peso que você carrega vem de cargas alheias, chegou a hora de corajosamente devolvê-las aos interessados.

Não se intimide, tampouco fique com a consciência pesada por achar que a pessoa vai sucumbir ao fardo excessivo. Ao contrário, nesse momento você estará dando a ela a oportunidade de aprender a carregar a própria mala.

A vida assim compartilhada fica muito mais suave, pois os relacionamentos com bases mais justas e equânimes acabam se tornando mais amorosos, sem cobranças e a liberdade abre um grande espaço para a cumplicidade e o afeto.

Onde está a sua mala?